sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Feira do livro 2012


Já sentimos o movimento e a festa que se vivem nos dias da nossa feira. Este ano, decorre de 10 a 14 de dezembro para que todos possam ter ou oferecer o presente eterno.
Esperamos pela vossa visita.

BiblioJardins - Ninguém dá prendas ao Pai Natal

Dezembro está à porta. No âmbito do projeto LerJardins, a biblioteca levou aos meninos do JI do  Monte a história de Ana Saldanha "Ninguém dá prendas ao Pai Natal".
No fim, as canções de natal fizeram-se ouvir.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Concurso "Uma Aventura Literária 2013"



Lê o regulamento e participa:
http://www.uma-aventura.pt/index.php?s=concursos

" A que sabe a lua " - JI dos Arcos

Muito obrigada aos meninos e educadora do JI dos Arcos, pela belíssima expressão plástica realizada a partir do livro que a Biblioteca levou até vós no projeto LerJardins. Para nós a vossa lua soube a doce carinho. 

Os Ciganos de Sophia de Mello Breyner Andresen e Pedro Sousa Tavares

Aqui à tua espera
Os Ciganos é um conto inédito de Sophia de Mello Breyner Andresen localizado no seu espólio na primavera de 2009. Este conto encontrava-se inacabado, tendo Pedro Sousa Tavares, jornalista e neto da escritora, assumido a responsabilidade de continuar uma história sobre o irresistível apelo da liberdade, sobre a atração pelo que está fora dos muros e pela descoberta do outro e suas diferenças.

Ruy é um rapaz que vive numa casa que não lhe parece ser sua. Há muitas regras, muitas rotinas, tantas que nem mesmo o jardim que rodeia a casa consegue ser suficientemente grande para que se sinta livre.
Contudo, num daqueles dias de primavera que caem lentamente ao som do baloiçar das folhas, Ruy é surpreendido pelo rataplã de um tambor que o desafia a saltar o muro do jardim e a percorrer os campos até se abeirar de um acampamento de ciganos. Com eles acaba por ficar e, inspirado pelo espírito indomado de Gela, uma rapariga cigana de olhos cor de avelã, vai descobrir o prazer de sentir o chão debaixo dos pés, enfim, vai experimentar a liberdade pela qual sempre suspirou.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

O Dia do Desassossego

Rede Bibliotecas Escolares: O Dia do Desassossego: Exposições de quadros alusivos à obra de Saramago que abrangerão a fachada da Casa dos Bicos, leituras encenadas, um concerto musica...

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Amadeo de Souza-Cardoso ( 14 de Novembro de 1887 – 1918)


Pertencente à primeira geração de pintores modernistas portugueses. Amadeo de Souza-Cardoso destaca-se entre todos eles pela qualidade excecional da sua obra e pelo diálogo que estabeleceu com as vanguardas históricas do início do século XX. "O artista desenvolveu, entre Paris e Manhufe, a mais séria possibilidade de arte moderna em Portugal num diálogo internacional, intenso mas pouco conhecido, com os artistas do seu tempo" . A sua pintura articula-se de modo aberto com movimentos como o cubismo o futurismo ou o expressionismo, atingindo em muitos momentos – e de modo sustentado na produção dos últimos anos –, um nível em tudo equiparável à produção de topo da arte internacional sua contemporânea.
A morte aos 30 anos de idade irá ditar o fim abrupto de uma obra pictórica em plena maturidade e de uma carreira internacional promissora mas ainda em fase de afirmação. Amadeo ficaria longamente esquecido ,dentro e, sobretudo, fora de Portugal: "O silêncio que durante longos anos cobriu com um espesso manto a visibilidade interpretativa da sua obra [...], e que foi também o silêncio de Portugal como país, não permitiu a atualização histórica internacional do artista"; e "só muito recentemente Amadeo de Souza-Cardoso começou o seu caminho de reconhecimento historiográfico".
 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A que sabe a Lua


Hoje, quisemos saber "A que sabe a lua" para os meninos do Jardim de Infância dos Arcos.
E soube muito bem!

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

De Chaves a Copenhaga




Lição de história ao vivo, sobre a Primeira Guerra Mundial.
A biblioteca está muito grata ao professor de economia Gil Santos, neto de um combatente da Grande Guerra, que nos permitiu ter uma lição de história viva e dinâmica. Autor em parce
ria com o seu filho do Livro " de Chaves a Copenhaga - a saga de um combatente", presta, segundo palavras do próprio, um tributo ao seu avô e a todos os combatentes dessa guerra. O livro é admirável, como diário de um combatente.A sessão, ao ser encenada, uma vez que se apresenta vestido como combatente da época e narrada na primeira pessoa, é extraordinariamente viva e entusiasmante. Antes, passou um belíssimo documentário, produzido pela RTP, onde ele próprio e o filho são entrevistados. Encerrou cantando e bem o fado "Soldado da Trincheira. "
Mais uma vez obrigada professor Gil Santos e Associação de Pais que connosco tornaram possível a sessão.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

De Chaves a Copenhaga - A saga de um combatente


“A Saga de um Combatente”, é um livro nascido da admiração de neto e bisneto pelo familiar combatente da sua saga de Chaves, mais propriamente do grande planalto do Brunheiro, até Copenhaga, trazendo a lume também as vivências e o diário de guerra, de fome, de frio, de doença, medos e morte, tudo isto vivido por um flaviense e contado na primeira pessoa em livro trazido às leituras pelos seus descendentes: Gil Filipe da Silva Calvão Morgado dos Santos e Gil Manuel Morgado dos Santos. No dia 8 de novembro, teremos na Biblioteca para as turmas de 9º ano, o neto, Gil Manuel Morgado dos Santos. A sessão será constituída pela Visualização de parte do documentário "Portugueses nas Trincheiras" de António Louçã. Logo que acabe o documentário “o combatente da Grande Guerra,” devidamente equipado, entra intempestivamente na sala recitando algumas das quadras do livro e falará aos alunos do livro e do período histórico e emocional que levou à sua edição.
Termina a sessão com o combatente cantando e tocando o fado de Fernando Farinha "Fado das Trincheiras".

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Dia Internacional das Eco-Escolas


A nossa escola tem o Galardão de Eco - Escola há seis anos consecutivos. Hoje, dia internacional das Eco - Escolas, simbolicamente, a maioria do pessoal discente, docente e assistentes operacionais vestimos de verde. Não esquecer que Ferreira de Castro disse que "verde que não exista no minho não existe em lado nenhum". Estamos numa região de verdes exuberantes e preservamos com orgulho e sentido de pertença a natureza. Somos merecidamente uma eco – escola e a nossa comunidade respeita e colabora nesta permanente jornada de mais natureza para melhor futuro.

Cativa-me



CATIVA-ME
"Foi então que apareceu a Web 2.0.
- Olá, bom dia! - disse ela.
- Olá, bom dia! - respondeu delicadamente a Teresa bibliotecária que se voltou mas não viu ninguém.
- Estou aqui, dentro deste MODE (my own device - NT).
- Quem és tu? - perguntou a Teresa bibliotecária - És bem bonitinha...
- Sou a Web 2.0. - disse ela.
- Anda brincar comigo - pediu-lhe a Teresa bibliotecária - estou tão triste ... os meus alunos deixaram de gostar de ler os livros que compro para eles.
-Não posso ir brincar contigo - disse a Web 2.0. - ainda não me cativaste ...
-Ah! Então, desculpa - disse a Teresa bibliotecária.
Mas pôs-se a pensar, a pensar, e acabou por perguntar:
- O que é que "cativar" quer dizer?
- Vê-se logo que não és de cá - disse a Web 2.0. - de que é que tu andas à procura?
- Ando à procura de partilhar informação, de comunicar, de interagir em novos ambientes digitais, de inovar, de ter uma conta de Facebook, de estar ligada a mil amigos no Twitter, no Linkedin ou no Google +, de saber usar um Ipad e já agora um Iphone, de saber fazer um Podcast (ou será um Vodcast?); Diigo isto porque sei que tu me podes ajudar, especialmente porque és Delicious e és também especialista em Wikis, em blogues em ebooks e apareces frequentemente no Youtube - já fiz um Survey monkey e descobri que és usada por milhões de utilizadores em todo o mundo e há também milhões de tags dedicados a ti.
- Oh! os homens têm computadores e outros "devices" e passam o tempo a navegar - disse a Web 2.0. - É uma grande maçada! E também fazem criação de galinhas! Aliás na minha opinião, é a única coisa interessante que eles têm. Andas à procura de galinhas?"

Adaptação livre de "O Principezinho" de Antoine de Saint-Exupéry

terça-feira, 6 de novembro de 2012

CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA

CARTA A MEUS FILHOS SOBRE OS FUZILAMENTOS DE GOYA

Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente à secular justiça,
para que os liquidasse “com suma piedade e sem efusão de sangue.”
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de uma classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,

foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadeia de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sêmen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de tê-la.
É isto o que mais importa — essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez
alguém está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
— mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga —
não hão-de ser em vão. Confesso que
muitas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam “amanhã”.
E, por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.

Jorge de Sena
Lisboa, 25/6/1959

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

manifesto anti leitura - José Fanha

Manifesto Anti-leitura por José Fanha

Abaixo a leitura, pim!
Andam para aí alguns elementos suspeitos que se escondem nas sombras das bibliotecas e chegam a ir as escolas para espalhar um vício terrível e abominável especialmente junto dos mais novos! Dos mais tenros! Dos mais ingénuos! Um vício que se chama
LEITURA!
Os passadores dessa droga dura, os dealers da leitura transformam simples cidadãos em leitores! Em mortos vivos! Em gente que entrega a sua vida aos livros e que se esquece de tudo o mais!
Abixo a leitura pim! Abaixo os leitores, pum!
O leitor é um doente!
O leitor é um viciado!
O leitor esquece-se de tudo o resto só para ler!
Cuidado com eles! Porque o pior de tudo é que a leitura pega-se! Cuidado com os leitores! Afastai-os de vós! Protegei vossos filhos!
Morra a leitura, morra! Pim!
Uma geração que lê é uma geração que pensa!
Uma geração que lê é uma geração que duvida!
Uma geração que lê é uma geração que questiona!
Uma geração que lê é uma geração que critica!
Uma geração que pensa e duvida e questiona e critica não engole qualquer patranha que lhe queiram enfiar! Não obedece! Não se baixa! Não se cala! Uma geração que lê e pensa é um perigo para a civilização ocidental e para o país!
Abaixo os leitores! Morra a literatura! Pam! Morra! Pum!
Esta gentinha põe-se a ler em vez de trabalhar, de verter o seu suor a bem da nação, de aceitar paciente e responsavelmente que lhe retirem a assistência médica, o subsídio de doença, a reforma, o teatro, a música! As cuecas, se for preciso!
Esta gentinha que lê perde-se a interrogar as medidas necessárias e urgentes para o bem do mercado, dos bancos, dos acionistas que são quem faz andar o país!
Quem lê ainda por cima diverte-se! Entretém-se!
A ler, os leitores viajam! E aprendem! E refletem! E riem! Choram! E sonham!
Morra a leitura pim! Pam! Pum!
A leitura faz conhecer personagens imorais como o débil Carlos da Maia e a desavergonhada Eduarda da Maia
E bruxas repelentes como a dama de pé de cabra do Alexandre Herculano ou a Blimunda do “Memorial do Convento”
Seres inúteis e irreais como o Gato Zorbas da “Gaivota e do Gato que a ensinou a voar”
Criaturas atrevidas, desobedientes e revolucionárias como o João-sem-medo, o Pinóquio, o Huckeleberry Finn, o Oliver Twist!
E loucos como o cigano Melquíades e o coronel Buendía dos “Cem anos de Solidão”.
A leitura faz-nos viajar por lugares mal frequentados como a ilha do tesouro, o beco das sardinheiras do Mário de Carvalho, os mares do “Mobby Dick”, a Buenos Aires de Borges, a Paris de Marcel Proust, a Londres de Oscar Wilde, a Moscovo de Tolstoi!
A leitura faz-nos rir de pessoas sérias como o conde de Abranhos, o Sancho Pança ou o escriturário Barthleby.
Já para não falar dos autores, meu Deus! Esses seres abjetos! Os escritores que escrevem livros e livros sem um pingo de vergonha! Deviam ser presos! Encerrados num jardim zoológico! Condenados aos trabalhos forçados! À morte! À cadeira elétrica!
Camões, por exemplo, era um marginal que andava sempre à espadeirada. E se fosse só isso, ainda podíamos perdoar. A luta, a pancadaria, a guerra não são reprováveis. Podem até ter uma função muito positiva na nossa sociedade!
Mas esse tal Camões escrevia entre espadeiradas!!! Escrevia estrofes e mais estrofes! Sonetos que enchem livros e que continuam a gastar papel que podia ser poupado para fazer pacotes de castanhas ou relatórios anuais da administração das empresas.
E o Bocage? Dizia impropérios! Palavrões! E até na poesia deixava a marca da sua pouca vergonha! Se escrevesse pornografia nós aceitávamos esses palavrões! Tinham uma função social! Mas poesia...!
E não esqueçamos essa histérica e louca Florbela Espanca, essa desavergonhada, essa grande doida, que queria amar! Deixai-nos rir! Se amasse o seu marido uma vez por semana cumpria a sua obrigação! Se fosse amante do chefe lá do escritório, estava a contribuir para uma gestão equilibrada do produto bruto! Mas não! Ela vertia nos versos o seu desejo de amar este, aquele, e mais o outro!
E lembremos Álvaro de Campos que é uma invenção torpe, um sujeito que nunca existiu de fato! Puro delírio! Personagem frágil e contraditória! E Ricardo Reis que também não existia! Nem Alberto Caeiro! Nem Bernardo Soares!
O Sr. Fernando Pessoa que escrevia cartas de amor devia ter tido vergonha e dedicar-se à sua profissão pobre mas honrada de escriturário! E de muitos mais escritores poderíamos falar! Gente horrível, que só gosta de mexer na miséria e na lama, gente carregada de maldade que nos fala da queda dos anjos e de amores de perdição, de barrancos de cegos, de lobos que uivam, de versículos satânicos!
E até quando escrevem sobre gente feliz, tem de ser gente feliz com lágrimas!
E há quem os leia! Quem sofra com eles! Quem os desfolhe carinhosamente sem saber que o veneno entra pelos olhos que lêem e pelos dedos que folheiam! E depois da leitura de uma página, por vezes depois da leitura de um só parágrafo já não há remédio! Eles já são leitores! Estão apanhados irremediavelmente pelo canto de sereia da leitura! A possibilidade de salvação é extremamente diminuta!
Os livros deviam ser reciclados e transformados em lenços de papel! Em solas de sapatos! Em bolas de futebol! Mas livrai-vos de os ler! Ou melhor! Queimem-nos! Lembrem-se daqueles que ao longo da história tentaram salvar-nos queimando pilhas e pilhas de livros!
Abaixo os livros! Morra a leitura! Morra, pim!
Os livros fazem-nos afastar da realidade, da economia! Do mercado! Do futuro!
Uma ponte é feita com ferro e cimento e não com livros!
No tribunal, o advogado não defende um criminoso com poesia!
Na sala de operações o cirurgião não abre os órgãos de um doente com um romance!
Ninguém se deixa corromper por um soneto!
Abaixo a prosa! E a poesia! E o ensaio!
Morra a leitura, morra! Pim!
E temos de falar das bibliotecas, essas casas sombrias onde o vício é permitido! Pais! Protegei os vossos filhos! As bibliotecas são autênticas salas de chuto de porta aberta ao público! E estão carregadas e alto abaixo de livros! E os livros estão à vista! Pior ainda, os livros estão à mão de qualquer criança ingénua! E alguns até têm ilustrações, bonecos que tornam a leitura mais fácil e a perdição mais próxima! E o pior é que podem ser requisitados e levados para a casa, para o seio da família onde vão espalhar a sua ação desagregadora e malfazeja!
Morra a leitura! Abaixo as bibliotecas! Pum!
Mas há esperanças para o futuro!
Por alguma razão muitos dos nossos melhores e mais impolutos dirigentes só leem resumos! Ou extratos da conta bancária! Quanto ao resto, nada! Nem uma palavra! Nem uma linha!
E quando lhes perguntam o que andam a ler, muito perspicazmente, eles inventam títulos de livros que não existem para lançar o engano e, quiçá, salvar alguns dos terríveis viciados na leitura!
Sigamos o exemplo que muitos dos nossos dirigentes e gerentes e gestores nos apontam! Há que ter a coragem de dizer bem alto:
A leitura prejudica gravemente a ignorância!
E sem ignorância o país não progride! Não crescem os juros! Não se investe nas off-shores! O estado não vende empresas abaixo do preço aos particulares! O preço da gasolina não sobe!
Acabemos de vez com a leitura! Abaixo a leitura! Pim!
Se puserem um livro à vossa frente, caros amigos, cuidado! Desviem o olhar! Não abram nem uma página! Pode bastar um verso para contaminar! Um homem que lê pode desejar viver num mundo melhor! Pode de repente sentir as lágrimas correrem-lhe pela cara abaixo! Pode querer subitamente ajudar os aflitos! Pode abraçar estupidamente um amigo ou beijar os lábios de uma rapariga bela como um raio de sol a iluminar a mais bela rosa do jardim!
Por isso é preciso fechar as portas aos antros de leitura! Sabemos que pode parecer doloroso mas é fundamental arrancar de vez os livros das mãos dos viciados e impedi-los de ler uma linha sequer! Se for preciso tapem-lhes os olhos! É preciso preparar o futuro dos nossos filhos! Não lhes dar ilusões, nem sonhos, nem alegrias! Nem dúvidas, nem sabedoria, nem nada!
Abaixo as bibliotecas! Abaixo os livros! Morra a leitura! Morra!
Fim!